


INADEQUABILIDADE DO TERRACEAMENTO DE INFILTRAÇÃO
A escolha de uma prática de conservação do solo não é arbitrária; ela deve ser rigorosamente fundamentada nas características do meio físico. O terraceamento de infiltração, ou em nível, é uma prática mecânica cujo princípio de funcionamento consiste na construção de canais e camalhões perfeitamente nivelados, com as extremidades fechadas. O objetivo é interceptar a totalidade do escoamento superficial gerado entre os terraços, armazenando a água no canal para que esta infiltre lentamente no perfil do solo.
Quando pode ser utilizado?
O terraço em nível tem sua eficácia comprovada e é amplamente recomendada, porém, sob uma condição específica: solos com alta permeabilidade em todo o seu perfil, relevo plano e textura argilosa. Manuais técnicos de referência nacional, publicados pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) e pela Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI) de São Paulo, são explícitos ao indicar este sistema para Latossolos, Nitossolos e Neossolos Quartzarênicos com ressalvas
Quando não deve ser utilizado?
De forma igualmente explícita, os manuais citados no item anterior contraindicam o terraceamento em nível para solos de permeabilidade moderada a lenta, ou que apresentem impedimentos à percolação em subsuperfície, como é o caso dos Argissolos.
A presença do horizonte B textural, denso e pouco permeável, invalida o pressuposto fundamental de projeto do sistema: a capacidade do solo de absorver o volume de água armazenado a uma taxa segura e eficiente. Sendo assim, água acumulada no canal do terraço não encontrará caminho para percolar em profundidade, levando à saturação prolongada do horizonte superficial, diminuição drástica da taxa de infiltração no canal do terraço e consequente ocorrência das falhas hidráulicas.
Consequências do uso inadequado:
A aplicação de uma tecnologia em condições para as quais ela é contraindicada gera riscos que superam em muito os problemas que se pretendia solucionar. No caso do terraceamento de infiltração em Argissolo com relevo ondulado, os riscos são severos e sistêmicos.
O acúmulo de água no canal do terraço em nível sobre Argissolos gera uma combinação de forças desestabilizadoras. A carga hidrostática da água armazenada exerce pressão direta sobre o camalhão. Simultaneamente, a infiltração no horizonte A é prejudicada pela baixa taxa de infiltração do canal, consequente ocorre represamento sobre o horizonte Bt que cria fluxo lateral subsuperficial. Este fluxo satura a base do camalhão do terraço por dentro, diminuindo drasticamente a coesão das partículas do solo e sua resistência ao cisalhamento.
Sob estas condições, especialmente durante eventos de chuva sequenciais, e uma chuva de alta intensidade, o rompimento do terraço torna-se um evento de alta probabilidade. A falha de um terraço de infiltração não é um evento localizado. O rompimento libera, de forma súbita e concentrada, todo o volume de água que estava armazenado. Esta massa de água desce a encosta com energia e volume muito superiores aos que o terraço imediatamente inferior foi projetado para suportar, causando sua sobrecarga e subsequente rompimento. Este processo se repete em um efeito dominó ou de falha em cascata, onde cada terraço rompido amplifica a força destrutiva que atingirá o próximo.
O resultado deste processo é a concentração de um fluxo de água torrencial em um único caminho, com energia suficiente para escavar o solo em profundidade, levando à formação de sulcos profundos e voçorocas permanentes. A voçoroca é uma das formas mais graves de degradação do solo, de difícil e onerosa remediação, que pode inutilizar permanentemente a área para a agricultura. Paradoxalmente, um sistema projetado para controlar a erosão laminar torna-se o agente causador de uma erosão concentrada de magnitude muito superior.